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segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Começaram as queimadas na Serra Gaúcha

Fogo em Cambará do Sul (Terra dos Cânions). Note a mata nativa, o campo sendo queimado, que  acaba por atingir a própria mata e os campos de Pinus sp. plantados. Outra destruição dos campos nativos dos Campos de Cima da Serra.
Infelizmente mais um ano passa e nada muda quanto às queimadas na Serra Gaúcha, mais especificamente nos Campos de Cima da Serra.
A piromania já tomou conta da região e isso pode ser visto e sentido também em Caxias do Sul. Dependendo da direção dos ventos, a fumaça chega até a capital gaúcha, Porto Alegre.

Região dos Campos de Cima da Serra (em amarelo) no RS
Estamos apenas no início da "estação das queimadas" e já notamos o céu em outro tom nos dias límpidos, com manchas marrons, para os olhares mais atentos.
As queimadas nessa região duram em torno de dois meses: de Agosto a Setembro, podendo chegar, com certa frequência a Outubro. Um pouco mais, um pouco menos. É nessa época que os fazendeiros dos Campos de Cima da Serra ateiam fogo no campo, que apresenta o pasto bastante empobrecido para alimentar seu gado devido às geadas e ao frio intenso do Inverno. Queimam também porque o gado do proprietário da fazenda acaba se machucando ao tentar comer o pasto que está recém brotando embaixo da palha seca pelo Inverno, já que acaba espetando seu focinho nos caules secos e endurecidos ao tentar abocanhar os brotos mais rentes ao solo. Mas essas são apenas desculpas.
A questão é social. A questão é de todos nós. É uma questão de Estado. O que não podemos é fechar um ou os dois olhos para esse problema ambiental e de saúde pública.
Em torno de três milhões de pessoas respiram fuligem densa nessa época a cada ano. Os casos de problemas respiratórios aumentam por causa dessa fumaça, por vezes lotando os pronto-atendimentos.
Quanto ao produtor rural, cabe fazer a roçada mecânica em vez de queimar o campo. Mesmo que dê muito mais trabalho, é o custo de seu próprio negócio que ele mesmo deve arcar e não distribuir seus "prejuízos" (ou custos de produção) com toda a sociedade.
A cada ano de queimadas, milhares de toneladas de material vivo é carbonizado, lançando para a atmosfera outras milhares de toneladas de gases que contribuem para o aquecimento global. E esse sim, tem efeitos que não temos bem ao certo seus limites, mas o que notamos é um clima regional muito mais agressivo, apresentando mudanças muito bruscas, vendavais, enchentes e secas, granizo, frios e calorões intensos em frequências jamais vistas na história. Estamos nos destruindo... lentamente.
É dever do Estado coibir a socialização do prejuízo. Brasil sem queimadas!
Na maioria das vezes o fogo é assim: baixinho, mas generalizado.
Note a fumaça densa que vai para o ar. Irrespirável.


6 comentários:

Franco disse...

Ótima matéria!Parabéns!Flora e fauna literalmente carbonizados...isto deve mudar!!!

Lucas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Instituto Orbis de Proteção e Conservação da Natureza disse...

Olá, Lucas.
Devemos dizer:
1) mesmo que as queimadas sejam históricas, elas jamais tiveram a proporção que alcançam nos dias de hoje;
2) queimadas espontâneas, aqui nos Campos de Cima da Serra, são raras. Dependem de raios, pois não há o surgimento espontâneo (sem ação humana) do fogo de outra forma, como pode haver no Cerrado brasileiro, onde há espécies de plantas que, dependendo das condições propícias, podem incendiar-se. Lá o fogo é mais presente do que aqui, o que não, jamais, liberaria a queimada antrópica (do ser humano) naquela região;
3) o corte das matas na Serra Gaúcha foi generalizado não sendo um demérito apenas caxiense ou apenas de qualquer outra grande cidade da nossa região. Em todas, grandes ou pequenas, houve o corte raso e o corte seletivo. Ainda hoje o IBAMA flagra cortes de mata nativa nos Campos de Cima da Serra, como ocorreu há pouco tempo em Jaquirana;
4) o problema da poluição das indústrias em Caxias do Sul e região é grave, assim como as emissões dos veículos. O pior é que, apesar de existir legislação punitiva para quem está poluindo, o Estado não faz a fiscalização como deveria faze-lo, permitindo que essa poluição toda continue. Estamos aqui também para denunciar esse tipo de atitude. Porém, quem está fazendo algo errado sempre o faz escondido...;
5) poderia-se dizer que a queima "preserva o campo" quando no lugar dele não são plantadas espécies vegetais exóticas (de outros lugares) invasoras e agressivas, como o caso so Pinus. Essa árvore, além de consumir a água e destruir nossos solos, libera agentes antagônicos químicos fazendo com que outras espécies não nasçam no local onde estão, apenas Pinus. Pior, as florestas de Pinus são plantadas onde antes era campo. As espécies da fauna que vivem exclusivamente no campo não vivem dentro de florestas, quer nativas ou plantadas, como o caso do veado-campeiro, do lobo-guará e do tamanduá-bandeira, espécies essas que viviam ou ainda vem, porém de forma bastante precária, nos Campos de Cima da Serra;
6) as fotos postadas no blog falam por si só quanto à fumaça no ar atmosférico de Caxias do Sul e região. No mesmo dia em que queimaram esse campo todo, os ventos trouxeram a fumaça em grande quantidade para Caxias. Nesse exato dia a Brigada Militar, através da Companhia Ambiental fez diversas autuações na região. É inegável que a fumaça veio da queima dos campos e que a queima não foi pequena. Um único proprietário foi multado pela queima de 1000 hectares em São Francisco de Paula!;
7) os Campos de Cima da Serra têm um pasto nativo, que deve ser mantido, e tem a vocação de criação de gado e outros animais. A agricultura na região não é nada recomendável, mesmo. Concordamos plenamente;
8) contam em toda região que os índios já faziam as queimadas. Perguntamos: que animais eles criavam para ter a necessidade de um pasto novo? E mais, qual era a população de índios? Quantos hectares queimavam, se é que o faziam? Essa história não está nada bem contada...
A pressão deve ser em relação ao Estado que tem que tomar as rédeas desse problema, além do problema de predação por animais selvagens, como no caso do leão-baio ("Puma concolor"). O Estado tem que ter financiamentos específicos e amparar o produtor rural nesses casos (queima e predação) e não fechar os olhos e fazer de conta que nada está acontecendo. Quaisquer problemas ambientais reverterão a nós mesmos, moradores daqui.
Lucas, um forte abraço, mantenhamos contato.

Roberto Chittolina disse...

BOM DIA COMO PRODUTOR RURAL,ACHO QUE PARA CHEGARMOS A UM DENOMIDOR COMUM,SOBRE AS QUEIMADAS DOS CAMPOS DE CIMA DA SERRA,SE DEIXARMOS DE ACONTECER OS CAPINS VÃO CRESCER E FICAR ALTOS E SECOS POIS COM GEADAS FREQUENTES,BEM COMO,AS VASSOURAS,E AI QUANDO ACONTECER UMA QUEIMADA PODERIA ACONTECER QUE NEM NO EUA.QUEIMAR FLORESTAS COISA QUE ATÉ HOJE NUNCA ACONTECEU EM NOSSAS MATAS POIS COM O CAPIM SEMPRE BAIXO.SE O PROBLEMA E A FAUNA,MORREM ANIMAIS MAIS NAS ESTRADAS MAL PLANEJADAS SEM TRAVESSIA PARA OS ANIMAISE SEM LOCAIS PARA AGUAS VOLTAREM A SE INFILTRAR NO SOLO,SE FOR A FUMAÇA AI QUE NÃO TEM ARGUMENTOS POIS QUEM MORA LÁ SABE,QUE NAS CIDADES OS POLUENTES SÃO BEM MAIORES,OS LIXOS,OS ESGOTOS, E AI PESSOAS QUE NUNCA VIVERAM DO INTERIOR,MAS COMEM ALIMENTOS E MADEIRA PRODUZIDAS NO INTERIOR FICAM ACUSANDO O PRODUTOR,TEMOS QUE DEIXAR DE DEMAGOGIA E ANTES DE ATACAR O PRODUTOR ACHARMOS SOLUÇÃO PARA AS CIDADES E PARA O PRODUTOR PODER TAM BÉM,UMA BOA SERIA PRIMEIRO SOBRE A PERMEABILIZAÇÃO DO SOLO PROVOCADA PELAS CIDADES,O LIXO NAS RUAS ESGOTOS,POLUENTES DE FABRICAS E VEICULOS.TEM TANTOS ASSUNTOS PARA VOCÊS PROTESTAR E AI SÓ ATACAM E CRIAM LEIS PARA EXPULSAR O PRODUTOR. VIVEMOS EM UM MUNDO CAPITALISTA E VOCES INFELIZEMENTE TRABALHAM PARA ELES....

Anônimo disse...

Engano seu meu amigo, as queimadas hj. são em menor escala do que antigamente e como disse o Lucas, existem outros agentes poluidores muito mais intensos e contínuos e nada é feito contra, pelo contrário, veja o Governo, só sabe incentivar a venda de automóveis.

João Manoel disse...

Boa matéria e ótimo debate.
Creio que as queimadas dos campos ressequidos pelas geadas são menos prejudiciais que o plantio de pinus. O poder público falha no apoio ao produtor rural quanto ao manejo correto das pastagens, ao mesmo tempo aplica multas pesadíssimas devido as queimadas. Atitudes desestimulantes. Resulta em mais êxodo rural e mais 'investidores' de florestas exóticas. O pinus e o eucalipto só ainda não tomaram conta dos Campos de Cima da Serra face ao baixo preço internacional da madeira.
Por outro ângulo, os campos só estão preservados devido a baixa densidade demográfica na região dos Campos de Cima da Serra, bem como pela medieval prática das queimadas.
No fundo defendo as queimadas dos plantios de pinus, isso sim seria um bem pra natureza.